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Amor-próprio é querer fazer xixi e fazer

Autoamor virou produto de luxo. Eu comecei o meu indo ao banheiro quando dava vontade. E funcionou.

2 min readJun 3, 2025
Uma colagem digital colorida e vibrante que mistura imagens associadas ao bem-estar e autocuidado (como uma pessoa meditando em posição de lótus, produtos de skincare, garrafa de água, tapete de yoga, cronômetro, folhas e frutas) com ícones de redes sociais (Instagram, Twitter, Facebook, YouTube). Tudo disposto de forma meio caótica e desordenada, como se fosse um painel de referências exagerado.

Muito se tem falado nesta década, sobretudo depois da pandemia, sobre autocuidado.

Virou item de vitrine, como dopamina, skincare, meditação e terapia em dia. Amar a si mesmo parece mais uma daquelas coisas do século XXI que a gente ostenta, como brunch de domingo e 10.000 seguidores no Instagram.

As pessoas vivem repetindo frases de efeito meio tortas, meio vazias, mas sempre embaladas num ar de sabedoria profunda. Tipo:
“Não é sobre ser bonito, é sobre se sentir bem com você mesmo.”
“Não é sobre ser o melhor, é sobre estar melhor.”
“Não é sobre…” — enfim, você pode completar com qualquer autoajuda Pinterest-friendly da sua preferência.

Mas no fundo, todo mundo sabe: é exatamente sobre isso.

É sobre ser bonito sim, ou pelo menos parecer. É sobre ser o melhor dentro da sua bolha. É sobre estar bem na fita, nem que pra isso você esteja péssimo por dentro.

E no embalo dessas frases de almanaque, surgem os comandos:

Medite.
Respire fundo.
Leia cinco minutos por dia.
Conheça a si mesmo.

ahahahahah çei…

Essa semana decidi que ia praticar o tal do amor-próprio. Ou melhor, autoamor, que é um termo mais bonitinho, com menos cara de workshop de R$ 497. E comecei da única forma que estava ao meu alcance e que, curiosamente, nenhum guru jamais recomendou:

Toda vez que eu queria ir ao banheiro, eu ia.

Só isso.

Quer fazer xixi? Vai.
Simples, direto, revolucionário.

Essa foi minha prática de autocuidado. E quer saber? Me senti poderosa. Chupem essa manga, coaches.

Depois do terceiro dia, comecei a ficar tão boa nisso que cogitei dar o próximo passo nessa jornada de evolução espiritual: quem sabe comer na hora de comer. Mas não quis me precipitar. Uma coisa de cada vez.

Inclusive, neste exato momento, estou segurando o xixi pra terminar essa crônica sem perder o fio da meada. Porque autocuidado é bom, mas deadlines são mais urgentes.

A verdade é essa: a maior parte das pessoas está ocupada demais até pra ir ao banheiro. E tem alguém achando que elas vão conseguir “conectar com a própria essência” enquanto o filho grita, os boletos chegam, o leite ferve, a patroa chama no WhatsApp e a bexiga aperta.

Parem de vender maná pra gente. Tá bom o pão multiplicado. Tá ótimo um copo d’água (com parcimônia, pra não precisar ir ao banheiro tantas vezes).

Talvez o amor-próprio e a liberdade sejam mesmo pra todos.
Mas não estão ao alcance de todos.

Porque amar a si mesmo exige tempo. E tempo, hoje em dia, é artigo de luxo. E esse texto é sim sobre xixi.

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B. Pellizzer | Escritora / Writer
B. Pellizzer | Escritora / Writer

Written by B. Pellizzer | Escritora / Writer

Não prometo finais felizes, mas prometo que vão te fazer pensar. Escritora de carne, osso e ironia.

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