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Mentir para sobreviver: o jogo que todos fingem não estar jogando

2 min readApr 15, 2025
Foto: Divulgação — O segredo de um milhão de dólares

Estava assistindo a um reality show na Netflix chamado O Segredo de Um Milhão de Dólares. Doze pessoas num hotel, uma caixa com um milhão de dólares entregue secretamente a um participante, e uma única regra: esconder dos outros que é o milionário.

Há tantas camadas nesse jogo que eu nem saberia por onde começar. Mas uma me pega forte: o modo como todos são obrigados a mentir para sobreviver… e ainda assim condenam a mentira.

Vivemos num jogo de aparências em que a mentira é moeda corrente, mas seguimos punindo quem joga bem. Porque, veja bem, ninguém ali está dizendo a verdade. Todos sabem disso. Mas mesmo assim, fingem que confiam.

O mais inacreditável não é a mentira em si, mas o personagem mitológico que aparece em todo episódio: aquele que diz, com a maior cara de pau:

“Eu confio no fulano. Acho que ele não me enganaria.”

Confiar num jogo de mentiras é quase um ato de delírio. Ou mais uma mentira, talvez, e eu prefiro que seja. Só assim ainda posso ter fé na humanidade.

Somos seres vivos. Nosso instinto primal mais básico é sobreviver.

Se a gente cair, sei lá, por qualquer motivo, e começar a sangrar, e ainda puder lutar… vai se entregar à morte e esperar o sangue se esvair até perdermos os sentidos? Não!
A não ser que haja alguma coisa errada com nosso cérebro, isso não vai acontecer.

Vamos lutar. Tentar parar de sangrar. Nos arrastar. Pedir socorro. Qualquer coisa. Qualquer!
Se agarrar aos pés de um estranho.
Se atirar no meio do asfalto para que um carro pare e nos socorra, mesmo correndo o risco de morrer mais rápido.

Mas uma coisa é certa:

Ninguém vai tentar limpar o chão ao redor para que o próprio sangue não manche a via pública.

A verdade é que quem joga bem está vivo.
E quem vive, mente — mesmo que jure que não.

O problema nunca foi a mentira.
O problema é insistir em confiar onde não cabe confiança.
É fingir que a vida é justa, honesta e transparente.
Como se não estivéssemos todos tentando, dia após dia, sobreviver.

E sim, às vezes sobreviver é mentir melhor que os outros, quando é que, afinal, vamos encarar essa verdade?

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B. Pellizzer | Escritora / Writer
B. Pellizzer | Escritora / Writer

Written by B. Pellizzer | Escritora / Writer

Não prometo finais felizes, mas prometo que vão te fazer pensar. Escritora de carne, osso e ironia.

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